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Patentes no Setor Ferroviário: Vetores de Segurança, Inovação e Sustentabilidade

por Marcello Ávila Nascimento

O Monopólio da Evolução

O transporte sobre trilhos, desde o advento da máquina a vapor, tem sido uma crônica de progresso técnico acelerado. Neste contexto, as patentes não servem apenas para proteger a propriedade intelectual e o investimento em P&D, mas funcionam como os alicerces que garantem a segurança, a interoperabilidade e o financiamento da inovação.

A Estrutura Legal como Garantia de Segurança e Evolução Cronológica

A história da engenharia ferroviária é marcada por saltos tecnológicos cruciais, muitos deles garantidos por patentes que se tornaram padrões mundiais. A função mais crítica de uma patente ferroviária é a validação de uma solução segura e testável que possa ser amplamente adotada.

Quadro 1: Estágios Tecnológicos e Pioneiros

Este quadro ilustra a progressão histórica das inovações, com destaque para a origem geográfica do pioneirismo, desde o nascimento da tração até a alta velocidade:

Estágio Tecnológico Período (Aprox.) Principais Inovações Patenteadas Pioneiros/Países de Destaque
Tração a Vapor Início do Século XIX Locomotiva a Vapor Eficiente. George StephensonReino Unido
Segurança e Acoplamento Meados/Fim do Séc. XIX Freio a Ar Comprimido (fail-safe). George WestinghouseEUA
Eletrificação e Sinalização Fim do Séc. XIX/Início do Séc. XX Ferrovia Eletrificada e Sistemas de Bloco. Werner von SiemensAlemanha
Alta Velocidade (TAV) Meados do Séc. XX em diante Trem-Bala (Shinkansen), Via Dedicada, ATC. Japão

O exemplo mais emblemático é a patente de George Westinghouse para o Freio a Ar Automático (1872). Esta invenção garantiu que, em caso de falha na linha de ar, os freios fossem automaticamente aplicados (fail-safe), um requisito de segurança absoluto para trens longos. A proteção legal desta patente garantiu sua rápida padronização global, transformando a segurança do transporte de massa.

Inovação Sistêmica e a Era Digital

Grandes avanços ferroviários raramente são uma única invenção; são sistemas complexos. Na era moderna, o foco se deslocou para a digitalização da sinalização, a automação metropolitana e a ultra-velocidade.

O trem-bala Shinkansen (Japão) não é protegido por uma única patente, mas por um sistema integrado de patentes em via permanente, aerodinâmica e no Controle Automático de Trem (ATC). Essa proteção permitiu que o Japão consolidasse sua liderança em TAV. Da mesma forma, em ambientes urbanos, o VLT sem catenária (cabos aéreos de energia) depende de patentes como o sistema APS (Alimentation Par le Sol) da Alstom, essencial para viabilizar projetos em centros históricos que exigem a preservação da paisagem.

Quadro 2: Detentores de Patentes na Era Digital (Sinalização e Maglev)

Tecnologia Chave Princípio de Funcionamento Detentores da Patente/Empresa e Países
CBTC (Bloco Móvel) Sinalização que usa comunicação wireless para calcular distâncias seguras em tempo real, aumentando a capacidade da linha. Siemens (Trainguard), Alstom (Urbalis), Hitachi Rail STS (Ansaldo) – Alemanha, França, Japão.
Maglev (EDS/Supercondutor) Levitação e propulsão por repulsão magnética usando ímãs supercondutores (altíssima velocidade). JR Central (Central Japan Railway Company) – Japão.
Alimentação pelo Solo (APS) Fornecimento de energia por um terceiro trilho que é energizado apenas sob o veículo (para VLT urbano). AlstomFrança.

O Controle de Trens Baseado em Comunicação (CBTC) é a espinha dorsal da automação metropolitana moderna. Suas patentes, detidas por gigantes globais, garantem a precisão dos algoritmos de bloco móvel, que calculam continuamente a distância segura entre trens via comunicação de rádio. Este rigor legal sobre a propriedade intelectual é o que sustenta a segurança e a interoperabilidade em linhas de alta densidade.

O Eixo Futuro: Ultra-Velocidade e Disrupção Tecnológica

A corrida por patentes continua a definir as futuras tendências. A tecnologia Maglev (Levitação Magnética) é um campo de intensa disputa entre o Japão (sistema EDS) e a Alemanha/China (sistema EMS), com patentes que visam otimizar a estabilidade em velocidades extremas. A próxima grande disrupção, no entanto, é o Hyperloop.

Quadro 3: Tecnologias de Fronteira (Hyperloop)

Empresa/Organização Foco Tecnológico das Patentes Detalhe Chave
Virgin Hyperloop One (VHO) Levitação Passiva, Propulsão Linear e Manutenção de Vácuo. Busca viabilizar a tecnologia eliminando a resistência do ar e o atrito para atingir velocidades ultra-altas.
The Boring Company (TBC) Sistemas de Túneis e Escavação de Baixo Custo. Patentes cruciais para a viabilidade econômica e construção da infraestrutura de tubos.

As patentes em Hyperloop estão sendo construídas para criar barreiras de entrada e garantir a exclusividade quando a tecnologia for escalada. Além disso, a busca por sustentabilidade impulsiona novas patentes em trens a hidrogênio e em sistemas de freios regenerativos, provando que a propriedade intelectual se alinha com objetivos de descarbonização.

Conclusão: Patentes como Ferramenta de Concorrência e Regulação

As patentes são o mecanismo que transforma o P&D em ativos financeiros e operacionais. Contudo, o poder que elas conferem exige vigilância regulatória.

Casos como as investigações do CADE no Brasil sobre o “Cartel dos Trens” e a intervenção da Comissão Europeia no caso de fusão Alstom-Siemens demonstram que o monopólio temporário garantido pela patente deve ser equilibrado pelo controle antitruste. O INPI protege o direito à inovação, enquanto o CADE protege o mercado contra o abuso desse direito, garantindo que o avanço tecnológico beneficie a sociedade por meio da concorrência leal.

As patentes continuam a incentivar o investimento maciço em engenharia ferroviária, garantindo a próxima geração de inovações em segurança, velocidade e sustentabilidade, pavimentando o caminho para o futuro do transporte sobre trilhos.

Restando dúvidas envie um e-mail para inpi@avilanascimento.adv.br, ou entre em contato pelo telefone (21) 3208-3838 ou pelo WhatsApp (21) 97272-8787.

Referências:

BRASIL. Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 maio 1996.

Site oficial do escritório Ávila Nascimento Advocacia. Disponível em: https://avilanascimento.adv.br/#informativos. Acesso em 2025.

ALSTOM. Alstom no Brasil. Disponível em: https://www.alstom.com/pt/alstom-no-brasil. Acesso em: 12 nov. 2025.

ALSTOM. Alstom’s automated CBTC technology bringing connected and efficient green mobility to Bengaluru. 12 jun. 2024. Disponível em: https://www.alstom.com/sites/alstom.com/files/2024/06/12/20240612_PR_Bangalore_Metro_Signalling_EN.pdf. Acesso em: nov. 2025.

EMBAIXADA DO JAPÃO NO BRASIL. Transportes. Disponível em: https://www.br.emb-japan.go.jp/cultura/transporte.html. Acesso em: nov. 2025.

NATIONAL INVENTORS HALL OF FAME (NIHF). NIHF Inductee George Westinghouse and the Air Brake System. Disponível em: https://www.invent.org/inductees/george-westinghouse-jr. Acesso em: nov. 2025.

SCRIBD. Planeta Ferrovia Sistema de Freio A Ar Direto George Westinghouse PDF Free. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/700490389/Pdfcoffee-com-Planeta-Ferrovia-Sistema-de-Freio-a-Ar-Direto-George-Westinghouse-PDF-Free. Acesso em: nov. 2025.

SIEMENS. Siemens e Alstom lamentam decisão da Comissão Europeia de proibir a fusão de suas unidades de mobilidade. Press Brazil, 6 fev. 2018. Disponível em: https://press.siemens.com/br/pt/comunicadodeimprensa/siemens-e-alstom-lamentam-decisao-da-comissao-europeia-de-proibir-fusao-de. Acesso em: nov. 2025.

TERRADOSOLNASCENTE.COM.BR. Shinkansen: Tudo sobre o Trem-Bala Japonês – História, Classes, Bilhetes e Dicas para Viajar. Disponível em: https://terradosolnascente.com.br/shinkansen-trem-bala-japones/. Acesso em: nov. 2025.

FAQ Patentes Setor Ferroviário

A alta velocidade foi viabilizada pelo desenvolvimento do sistema integrado Shinkansen no Japão. As patentes-chave não estão apenas no trem, mas na via permanente dedicada e no Controle Automático de Trem (ATC), que garante a segurança em velocidades acima de 200 km/h. Empresas como a JR Central (Japão) lideram esse portfólio de patentes.

CBTC (Communication Based Train Control) é a tecnologia de sinalização digital mais importante da atualidade. Ela substitui a sinalização fixa pelo conceito de bloco móvel, usando comunicação wireless para calcular a distância segura entre os trens em tempo real. Isso permite que os trens operem em intervalos menores, aumentando drasticamente a capacidade e a automação de metrôs e ferrovias urbanas.

Os principais detentores de patentes são as multinacionais que dominam a tecnologia de sinalização e material rodante:

  • Siemens (Trainguard CBTC).
  • Alstom (Urbalis CBTC, VLT APS e Trens a Hidrogênio).
  • Hitachi Rail STS (antiga Ansaldo STS).
  • JR Central (Japão, Maglev).

As patentes do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) contribuem diretamente para a estética urbana por meio de tecnologias como a Alimentação pelo Solo (APS), patenteada pela Alstom. Essa solução elimina a necessidade de catenárias (fios aéreos) em centros históricos, fornecendo energia por meio de um terceiro trilho embutido que é ativado apenas sob o veículo, preservando a paisagem.

Hyperloop é um conceito de transporte de ultra-alta velocidade onde cápsulas flutuam por levitação magnética dentro de tubos de vácuo. As patentes se concentram em resolver desafios de engenharia complexos, como a manutenção de vácuo e a levitação passiva. As empresas líderes em patentes neste campo emergente são a Virgin Hyperloop One e a Hyperloop Transportation Technologies (HTT).

As patentes garantem um monopólio temporário sobre a tecnologia, mas as agências antitruste (como o CADE no Brasil) intervêm para evitar o abuso de posição dominante. O caso do "Cartel dos Trens" envolveu empresas detentoras de patentes essenciais que foram acusadas de fraudar licitações, destacando a necessidade de regulamentação para garantir que o avanço tecnológico ocorra sob concorrência leal.

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