por Marcello Ávila Nascimento
I. Introdução: O Mito da “Nova IA”
O mercado digital está inundado de anúncios tentadores: “IA que cria aplicativo”, “IA que escreve e-book”, “IA que gera carrosséis para Instagram”. A promessa é clara — automação total e resultados profissionais com o clique de um botão.
No entanto, o consumidor e o desenvolvedor precisam encarar uma verdade técnica: na maioria dos casos, não estamos diante de uma inteligência artificial recém-desenvolvida. Estamos lidando com Plataformas de Automação que atuam como clientes de poderosos motores de IA generativa já existentes (como GPT-4, Gemini ou DALL-E) através de suas APIs.
O produto que está sendo vendido é, na verdade, uma interface simplificada que esconde o verdadeiro ativo intelectual: o Compêndio de Prompts Otimizados. Surge, então, o dilema central deste novo mercado: Se o motor é o mesmo para todos, como uma empresa pode construir uma marca única e, crucialmente, proteger esse seu ativo proprietário?
II. O Valor Secreto: A Engenharia de Prompt
Se a IA é o motor (o hardware), o prompt é o combustível e o Compêndio de Prompts é o manual de instruções otimizado.
A função principal da plataforma não é apenas enviar a solicitação do usuário para a IA. Ela age como uma Geradora e Orquestradora de Comandos, desempenhando dois papéis essenciais:
- Geradora de Prompts Pré-selecionados: É o catálogo de comandos básicos e eficientes para tarefas de commodity (ex: “escreva 5 títulos para um blog”).
- Orquestradora dos “Prompts Geniais”: Este é o valor real. O “prompt genial” é o comando que não apenas pede à IA para executar uma tarefa, mas que a instrui a assumir um papel específico (“aja como um copywriter sênior, especialista em funis de vendas”), a utilizar contexto proprietário e a seguir uma lógica encadeada e proprietária.
Enquanto um usuário comum digita “escreva um e-book”, a plataforma dispara uma sequência de “prompts geniais” que: geram o sumário, inserem o contexto ao criar cada capítulo, e garantem a coesão de voz em todo o documento. O desenvolvedor está vendendo o know-how (a engenharia de prompt), não a tecnologia da IA em si.
III. A Busca pela “IA de Casa” (Vantagem Competitiva)
Para evitar a comoditização e justificar o preço premium, os desenvolvedores buscam uma “IA para chamar de sua”. Isso é feito elevando o nível de especialização.
Se a qualidade do prompt é a primeira linha de defesa, o Ajuste Fino (Fine-Tuning) é a segunda. Em vez de usar a IA de base (treinada em toda a internet), as empresas alimentam o modelo com seus próprios dados especializados: manuais técnicos, corpus de textos de alta performance, best-sellers do nicho.
O resultado é um modelo de IA que não apenas responde ao prompt genial, mas o faz com a personalidade, o estilo e a precisão técnica exclusivos daquela marca. A ferramenta de automação se transforma em um especialista digital, tornando-se um ativo proprietário difícil de ser replicado pelos concorrentes.
IV. O Grande Desafio Jurídico: Protegendo o Compêndio de Prompts
Aqui reside o nó do problema: o valor está no texto da metodologia (prompt), mas as leis de Propriedade Intelectual (PI) foram desenhadas para proteger o código-fonte, a invenção técnica ou a expressão artística.
- Patentes (Efeito Técnico): É quase impossível patentear um prompt (ou a sequência dele) porque ele é uma metodologia ou um método de negócio, carecendo do “efeito técnico” (uma solução nova para um problema técnico) exigido para registro.
- Direito Autoral / Registro de Software: O Direito Autoral protege a expressão da ideia (o código que faz a plataforma funcionar), mas não a solução ou a ideia (o prompt em si).
A lei, portanto, não protege diretamente o texto do prompt genial. O Refúgio: Segredo Industrial e Propriedade Intelectual Estrutural. As empresas recorrem a mecanismos indiretos para proteger seu investimento:
- Segredo Industrial (Trade Secret): Este é o pilar de defesa. O texto exato e a lógica do prompt genial são mantidos em sigilo absoluto, incorporados no back-end da plataforma e nunca revelados ao usuário. O valor é resguardado pela confidencialidade e por rígidos contratos (NDAs).
- Propriedade Intelectual do Envoltório: O registro de software protege o código de implementação da plataforma, e o Direito Autoral protege a Interface de Usuário (UI/UX). Copiar o prompt pode ser difícil, mas copiar a maneira como ele é entregue ao usuário (o look and feel da plataforma) é ilegal.
V. Conclusão: O Futuro da Propriedade Intelectual
O campo de batalha da inovação se deslocou do algoritmo para a metodologia de interação. O Compêndio de Prompts, especialmente os “geniais”, é a nova commodity intelectual.
Embora não possa ser protegido diretamente como uma invenção ou obra literária, seu valor é solidamente resguardado pela combinação de segredo industrial e a proteção legal da arquitetura de software que o implementa. O desenvolvedor pode não ser o dono da IA, mas pode ser o dono da maneira mais inteligente e lucrativa de usá-la, e isso, no mercado de hoje, vale ouro.
Restando dúvidas envie um e-mail para inpi@avilanascimento.adv.br, ou entre em contato pelo telefone (21) 3208-3838 ou pelo WhatsApp (21) 97272-8787.
Referências:
BRASIL. Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 maio 1996.
Site oficial do escritório Ávila Nascimento Advocacia. Disponível em: https://avilanascimento.adv.br/#informativos. Acesso em 2025.
SILVA, P. R. Engenharia de Prompt e o Futuro do Desenvolvimento de Aplicações em IA. Revista Brasileira de Inteligência Artificial, 2024. Disponível em: https://www.revistabrai.com.br/prompt-engineering-avancado. Acesso em: nov. 2025.
RUSSELL, Stuart; NORVIG, Peter. Inteligência Artificial (A Modern Approach). 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2020.
Não diretamente. O texto do prompt não é protegido por patentes (falta efeito técnico) ou Direito Autoral. A proteção se dá por Segredo Industrial e pela proteção do código de implementação da plataforma. Empresas criam sua diferenciação usando Engenharia de Prompt Avançada e, principalmente, realizando o Ajuste Fino (Fine-Tuning) do modelo de IA base com seus próprios dados proprietários e de nicho. É a arte de criar comandos altamente específicos e sequenciais (prompts encadeados) para obter resultados de alta qualidade da IA. É o principal diferencial de valor, pois transforma um clique simples em uma execução complexa e eficiente. O INPI protege o Registro de Software (o código da plataforma) e a Marca da plataforma. Não protege o prompt em si, mas garante a exclusividade do nome da marca, avaliando critérios de colidência (fonética, gráfica, ideológica).FAQ Engenharia de Prompts
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